Eu
não entendi exatamente o que estava acontecendo, de repente era como se eu
tivesse acordado de um sonho muito longo, daqueles que a gente esquece que
existe uma realidade fora do sonho. Silver estava me levando para a realidade,
mas será que eu queria me encontrar dinovo com essa realidade ? Tudo que eu
sabia era que eu tinha que ver Joshua dinovo e algo na fala de Silver me dava a
entender que eu não teria muitas oportunidades daqui pra frente. Eu descobri
mais pra frente que eu teria na verdade mais oportunidades do que eu gostaria
de ter. Eu não fazia a menor ideia se o vestido era bonito ou não, mas tocando
ele dava para perceber que ele tinha muitos detalhes, principalmente na base
dele.
- É um vestido vermelho, tem um
decote não muito exagerado, a manga dele é bastante longa, existem alguns
detalhes na base dele que eu não sei explicar bem, mas enfim. Ele é muito
bonito, é o mínimo que você merece – Me explicou Silur – Aposto que Joshua vai
gostar de ve-la... Se bem que ele ia gostar de você até se você fosse com uma
camiseta da Vans para a formatura.
- Então eu realmente vou vê-lo ?
- Definitivamente! Eu estou
colocando metade da minha vida em risco por isso!
- Metade ? E a outra metade?
- A outra metade minha cara, eu já
perdi faz tempo.
Silur
me indicou o vestido, me guiou por um tempo e depois me deu privacidade para
que eu me trocasse. Conforme os minutos se passavam mais eu me dava conta do
quão absurdo era eu ter passado tanto tempo sem me questionar sobre o que
exatamente aconteceu comigo. Mas será que as pessoas não fazem isso o tempo
todo ? Sinto como se o mundo estivesse o tempo todo mudando, para pior, e
ninguém percebesse até que algum ente querido morresse ou todo mundo saísse andando na rua gritando.
O problema é que ás vezes a gente também voltava a ficar cegos quando algum
ente querido morria ou pessoas fossem as ruas andar e gritar. Ficar cega me fez
entender muitas coisas,eu achava que eu não tinha pensado, mas acho que por um
longo tempo, tão longo que pareceu tanto um ano quanto um segundo; eu pensei em
tudo que eu tinha visto enquanto eu podia, em tudo que eu ouvi, tudo que
passei. Não consegui entender porque eu estava naquela situação e enquanto eu
me trocava tudo fazia ainda mais sentido, era como bater em um cachorro e logo
depois dar um biscoito para ele. Era tudo muito emocionalmente estressante para
mim, mesmo com os 2 anos de diferença, nestes anos eu recebia minhas refeições
todo dia e por mais que no começo eu quisesse mais morrer achava que nem em
casa mais estivesse acabei decidindo viver enquanto fosse possível, algo me
dizia que quanto mais eu vivesse mais eu aprenderia e mais eu poderia entender
sobre o que era todo o mistério que a minha vida tinha e que eu não conseguia
sequer identificar bem até ficar cega. Eu sabia alguns fatos que apenas me
davam caminhos para trilhar, dúvidas, questionamentos; o primeiro era que o meu
pai tinha um grande segredo que me envolvia e que ele nunca teve coragem de me
contar. Antes eu diria apenas: “ele nunca quis me contar”, mas hoje observo que
o que lhe faltou foi coragem e se eu ainda tivesse qualquer esperança de que
meu pai não soubesse e tudo isso tivesse sido fora do consentimento dele eu
poderia dizer “ele tinha medo porque não
havia nada que ele pudesse fazer”, mas eu sei que esse não foi o caso, era como
se eu fosse um objeto que ele gostasse, mas que precisava ser quebrado para que
outros objetos ou um objeto maior pudesse cumprir seu papel. Tudo na minha
mente era metafórico, eu não sabia de nada que realmente pudesse ter
acontecido, era tudo especulação e o que eu mais queria era tirar tudo a limpo
com Silur, mas um nome me impedia de raciocinar direito afinal eu só queria
sair correndo para os braços de Joshua. E se ele não gostasse mais de mim ? E
se tudo isso fosse um truque ? E se Silur não fosse nada mais do que mais um
fantoche de alguma coisa maior feita para me iludir e levar ao meu derradeiro
fim ? Bom, se tinha uma coisa que eu me preparei todos os dias para quando
viesse havia sido a morte. Que eu fosse bem vestida então, foi quando eu
terminei de me vestir e chamei Silur. Ele disse:
- Só tem apenas umas coisa que eu preciso
te falar antes de irmos. – Imaginei que neste momento ele daria a brecha que me
faria ter certeza de que eu não ficaria viva por muito mais tempo.
- Pode falar.
- O Joshua está sendo procurado
pelas mesmas pessoas que fizeram isso em você, então é melhor você ser bem
discreta, viu ? – O que ele disse foi bem diferente do que eu estava esperando.
- E eles não vão estar me procurando
também ?
- Para todos os efeitos, você já
está morta.
- Por que ?
- Porque por mais incrível que
pareça você só está aqui, assim, graças a mim e algumas pessoas aleatórias que
são importantes, mas que nunca são comentadas. - A cada minuto Silur dava um turbilhão de
informações que eu não sabia como lidar. O que afinal tinha acontecido eu não
sabia muito bem, porém eu ia descobrir.
- Já chega !
- O que houve... ?
- Conte tudo, toda a verdade. AGORA.
- Eu contaria toda a verdade se eu
soubesse toda a verdade, mas por ora posso te contar boa parte dela e
principalmente as partes que lhe interessam. Eu posso te prometer que isso não
vai demorar muito.
O que Silur me contou foi sobre uma
organização muito grande, maior que o nosso governo (mas não a única maior que
o nosso governo), que tinha um propósito bem claro, definido logo em sua
criação: melhorar o mundo. Falando assim eles parecem pessoas muito boazinhas,
porém o grupo era formado por um bando de intelectuais radicais que acreditavam
que apenas com violência, destruição e guerra o mundo poderia ser mudado. A
questão era que como em matéria de guerra não havia país mais desenvolvido que
os EUA, o projeto em si soava como uma grande perda de tempo e era exatamente
isso que eles queriam. Eles estavam desenvolvendo uma arma de destruição em
massa contínua. Não era uma bomba atômica, nem um robô gigante ou algo assim.
Entretando, nem Silur sabia exatamente o que era, tudo que ele sabia eram
informações fragmentadas, o que se sabia era que o alicerce do projeto todo
eram crianças, aparentemente eu e o Joshua pelo que Silur sabia. Nós dois não
poderíamos ficar juntos sob hipótese alguma. É aí que as coisas começaram a dar
errado. Silur que trabalhava como um peão para a organização identificou um elo
fraco do sistema: meu pai. Meu pai foi escolhido para gerar uma das crianças
devido a varios traços genéticos importantes para o sucesso da operação, todavia
ele nunca havia ficado completamente contente com esta decisão e durante anos
Silur que entrara no projeto como a pessoa mais inteligente dele, foi ficando
cada vez mais próximo de meu pai. Apenas poucas pessoas sabiam a identidade de
Joshua e minha e Silur não era para ser uma das pessoas, mas era. Ele “movimentou
pauzinhos” e fez com que eu e Joshua ficássemos próximos. Nem ele sabia que
tipo de consequências isso poderia ter, mas ele tinha um objetivo bem claro:
atrapalhar a concretização do projeto, para ele tudo aquilo era errado e só
algo de dentro poderia parar o desastre que eles estavam prestes a causar. É
bom deixar claro que não estou aqui para defender todas as ações de Silur, por
mais que neste ponto elas possam estar me ajudando , ele mesmo se definiu em
uma certa época como alguém que apenas queria “ver o circo pegar fogo” porque
isso parecia melhor do que deixar as coisas como estavam. Quando ele não
conseguiu mais esconder que estávamos não só na mesma escola, mas também
namorando, os líderes do projeto resolveram que era a hora de me matar e tentar
concluir o projeto daqui a alguns anos. Entretanto foi também nesta hora que
Silur foi descoberto e ficou impossível obter mais informações que isso. Quando
tentaram me matar, Silur apareceu e antes que terminassem o trabalho ele
conseguiu matar o grupo e me manteve na casa cuidando de mim de uma maneira que
para todo o mundo eu parecesse morta. Por último, tinha uma informação que não
se encaixava em nada, mas que aparentemente era muito importante: uma grande
chuva estava chegando.
-
Podemos ir agora ? Joshua já está esperando.
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