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segunda-feira, 25 de abril de 2011

[E-book] Conto: Carpe Diem


Um capítulo logo no começo da semana? Pois é, milagres acontecem. Está aí mais um capítulo da breve história de Lucas. Eu aconselho aos leitores, lerem o último texto e refletir ouvindo a música "Black" do Pearl Jam. Sentiriam algo muito próximo do que Lucas sentiu ao refletir.

Mr. Silver

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Os três anos de vida que restavam a Lucas passariam muito rápido. A primeira coisa que decidiu fazer foi largar tudo que estava fazendo, se trancou no quarto e nos primeiros três meses ele simplesmente dormia, chorava, comia pouco e se sustentava com a bolsa de altíssimo valor que o governo pagava para aquelas situações onde pessoas de classe alta, alunos de destaque ou pessoas famosas descobriam tragicamente quando morreriam. Porém passados os três meses Lucas passou a se questionar sobre sua atitude, será que ele precisava fazer aquilo? Não haveria alguma forma de se aproveitar disso? Por mais que isso soasse absurdo, após algumas semanas ele decidiu enfim sair de casa para fazer algo que ele mesmo havia dito que nunca havia feito, seja lá qual fosse a real definição disso: curtir a vida. Pegou algum dinheiro e foi ao Shopping mais caro que conhecia, ao chegar lá todos olhavam para ele como se fosse um cachorro laranja com antenas, entrou então em uma loja de grife para garotos e garotinhas que querem parecer seus artistas de rock e decidiu ser o mais mainstream que a loja poderia oferecer: saiu da loja com uma calça preta mais justa que o normal, uma camiseta amarela com alguns dizeres em inglês que Lucas preferiu nem notar para não se decepcionar demais, um tênis all star com uma arte exclusiva da banda “The Who” e um boné que na opinião dele não ajudava muito contra os raios solares, todavia nesse momento ele só queria poder se enturmar em uma balada qualquer. Ao sair da loja as pessoas pelo menos deixaram de olhá-lo, a partir de agora ele fazia parte do cenário, pela primeira vez praticamente. Havia uma coisa que fazia sentido dentro de todos aqueles apetrechos que ele havia comprado (qualquer roupa que fosse muita mais complexa que uma calça e uma camiseta ou camisa, Lucas consideraria como apetrechos), tudo aquilo tornava discreta a feição cansada e abatida que todos os cidadãos tinham, era como retornar nos tempos que os seus avós comentavam: “rostos vívidos e cheios de energia, já não se vê mais isso”. Lucas ainda assim não estava mais se sentindo bem acomodado naquele ambiente que parecia transpirar felicidade juvenil, vitalidade enquanto ele se sentia como se transpirasse a palavra “morte”, então ele foi para casa esperar até a hora de uma balada que alguns amigos seus que gostavam de rock’n’roll viviam comentando, estava na hora de fazer algo de interessante na sua vida.

Backstage era um lugar que abrigava qualquer tipo de apreciador de rock, tinha dois ambientes simples mas aconchegantes, ambos com bares recheados de cervejas internacionais e drinques estilosos. Os ambientes eram sempre escuros e de acordo com a música que estava tocando um diferente jogo de luzes era posto para dar mais vida ao local.

Onze horas da noite Lucas chamou um taxi que o levou até uma região do centro da cidade lotada de baladas, festas, barzinhos e entrou em uma balada com uma fachada preta com dizeres em branco “Backstage”. Entrou sem problemas e foi se acostumando com a música alta que naquele momento era “Sweet Child’o Mine” da banda Guns’n’Roses, enquanto andava via que sei visual um tanto quanto colorido não combinava com a maioria das pessoas de lá então tratou de pegar uma cerveja e se dirigir ao andar superior onde havia mais pessoas vestidas como ele. É interessante salientar que em ambientes como esses que de certa forma o simples fato de estar lá reflete um pouco sobre você tendem a ter pessoas muito carismáticas e dispostas a ter um bom papo. Foi assim que Lucas conseguiu conhecer um escritor alemão que estava passando um ano no Brasil para escrever romances tropicais, uma dançarina de casas noturnas que o chamou três vezes para conhecer o apartamento dela, mas Lucas não aceitou por razões pessoais. A cada pessoa que ele conhecia, era como se ele estivesse entrando em um mundo completamente diferente. Lucas estava acostumado a lidar com diferentes pessoas, mas mesmo assim nunca tivera a oportunidade de conhecer pessoas tão diferentes e peculiares. A pessoa mais interessante que Lucas conheceu foi um músico irlandês que odiava a banda U2:

- Meu caro companheiro de um Heinekein. O que faz da vida para estar aqui falando com um mero irlândes? – O irlândes se chamava Neil e tinha um sotaque fortíssimo.

- Haha! No momento estou apenas tentando viver um pouco.

- Bem lembrado meu caro... As vezes nos esquecemos disso. Mas bem, que tipo de música você ouve? Espero que não seja U2.

- Não, não. Haha. Eu gosto de música irlandesa, a música tradicional.

- Ta falando sério, pal? – Neil tnha a mania de usar expressões em inglês no meio de frases em português.

- Com certeza.

- Então vamos amanha ao Irish Pub, fica a algumas quadras daqui, aposto que vai gostar muito de lá.

Desta maneira Lucas no dia seguinte foi para o “Irish Pub” e conheceu ainda mais pessoas, bebeu cerveja ao som de músicas como “The Parting Glass” e “Fields of Glory”. Ele fez muito sucesso por ser um brasileiro com muito conhecimento em cultura e costumes irlandeses. A partir desta data Neil o chamou para vários passeios, ele chegou a conhecer algumas garotas muito interessantes, algumas até se interessaram por eles, mas era aquela coisa impulsiva que ele não se interessava. Os próximos quatro meses foram marcados por saídas diárias para lugares cada vez mais diferentes, de shows de rock até cerimonias de chá japonesas; quase viajou para o Canadá com uma garota que conheceu num curso de bateria. Ao final de aproximadamente quatro meses ele se sentou no meio do mato em uma região entre o Brasil e a Venezuela, pegou seu Ipod e começou a ouvir “Black” do Pearl Jam.

- Afinal, o que eu estou fazendo com a minha vida? De que forma eu ajudei alguma pessoa ? O que eu fiz da minha vida além de “aproveitá-la”? – Lucas não conseguia parar de se questionar e já estava chorando, não sabia se pela música ou se pela reflexão.

Carpe Diem

"Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurar o seu legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? - Carpe - ouve? - Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas."

Carpe Diem é uma expressão em latim que quer dizer algo como: “Aproveite o dia, não se preocupe com o futuro”. Muitos estudantes pré-universitários focam sua vida nos estudos, depois entram na faculdade e a coisa parece que so tende a piorar. E se a gente simplesmente curtisse a vida? Não como no filme “curtindo a vida adoidado” onde o protagonista curte muito a vida, mas por apenas um dia. Seria algo mais como o seriado britânico Skins. Onde os jovens não ligam para seu futuro, para uma forma de ajudar as pessoas ou uma forma de ascender socialmente. O tempo todo estamos preocupados com o que vamos ser, que profissão teremos, como vamos orgulhar nossos pais, entre outras coisas. Eu mesmo digo a mim mesmo que vou fazer o curso de engenharia elétrica, me formar, fazer as devidas graduações seguintes e um dia ter bastante dinheiro e poder viver a vida como eu realmente quero, porém nosso dia é cercado de exemplos de pessoas que desejaram a mesma coisa, mas não conseguiram alcançar; por que eu seria diferente? Eu acredito em mim mesmo, no meu caso é melhor eu simplesmente acreditar e lutar para ser diferente. Mas se eu soubesse que em três anos eu morreria, talvez tudo isso viesse a baixo, pois não daria tempo de realizar nem sequer metade do planejado. Capaz que eu decidisse seguir em frente curtindo a vida de uma forma que eu nunca tinha feito antes. Entretanto será que dá pra mudar todo o meu ideal de ajudar as pessoas e todos meus sonhos, da noite pro dia e simplesmente jogar tudo ao alto? Eu acredito que eu me enganaria. No final das contas o que é curtir a vida? É só fazer coisas inúties? O que é útil? Muitas questões e poucas respostas, concordo. Verdade seja dita, curtir a vida pode ser estudar para ser quem você quer tanto ser, pode ser ficar trancado em seu quarto num feriado. Tudo depende da pessoa. Lucas pode ter aprendido como é duro tentar ir contra seus ideais e sentir depois remorso por tudo, mas toda experiência é válida e pode levar a um destino ainda mais brilhante na vida de cada um.


2 comentários:

Já pensei muito sobre isso: o que é aproveitar a vida? Todos temos inúmeros objetivos que gostaríamos de alcançar - alguns a curto, outros a médio e outros a longo prazo. Saber exatamente o dia de sua morte implicaria na conclusão de que alguns planos não poderão ser realizados - por simples falta de tempo.

Estou gostando muito da história. Mostra um tipo de atitude bem provável que pessoas tomariam se tivessem na mesma situação. Entretanto, com essa nova reflexão que veio a mente de Lucas, é possível que ele mude de postura e aja de outro modo nesse curto tempo que lhe resta.

Espero ansiosamente pelos próximos capítulos!
 
Fico agradecido! Espero manter suas expectativas.
 

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