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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

[Time2Think] O meu mundo dos ansiosos.




Para um ansioso, a crise de ansiedade é apenas mais um aspecto da vida. Não porque ela é algo simples, que passa até despercebido, como um café da manhã, um “bom dia” (a não ser que seja um “bom dia” de uma garota que você goste, isso nunca passa despercebido); muito pelo contrário, passa com a frequência de uma coisa rotineira e com a intensidade de um desastre em nossas vidas. O desastre em si nem é real, a realidade que as pessoas que não são ansiosas estão acostumadas não vale para esse seleto grupo de pessoas que enxerga e sente o mundo de outra maneira. O ansioso sofre as atribulações da mente de uma maneira real, o que prejudica muito a capacidade das pessoas ao seu redor sentir empatia por ele. Se quando as pessoas ficassem tristes, elas sentissem uma dor no pé, ou a gripe só atingisse pessoas que tivessem sofrido desiuluções amorosas, o mundo dos ansioso seria mais simples e ele se sentiria mais compreendido. Mas o mundo não é assim, e enquanto algumas pessoas lidam com os percalços do mundo sem parecer que estão a beira de um colapso e que a morte parece algo iminente e próximo, outras pessoas não conseguem tropeçar na rua sem ter uma crise de choro e desespero, com a mente cheia de certezas que não são racionalmente certezas, mas que naquele momento são mais importantes que qualquer razão desenvolvida até então.
Difícil tentar explorar as vantagens de ser ansioso, parece um estado de espírito tão retrógado, tão “anti evolutivo”. que deixa quem o sente tão suscetível aos males que o mundo parece ter se adaptado tão bem. Males estes que são tão naturais quanto uma praia artificial no Japão. Nossa rotina mudou aos poucos e cada vez mais ela exigiu que o ser humano tivesse menos tempo, se acostumasse a ter sonhos que não fossem realizados, a se deparar com frustrações em cima de frustrações e seguir andando. Quem não se adapta a isso não tem qualidade de vida (há quem diga que quem se adapta também não tem), tem em suas mãos uma soma de problema sem solução. Todavia se eu fosse eleger uma vantagem que alguém ansioso possui eu diria que é a sua inerente capacidade de ver o mundo de uma maneira que ninguém mais vê, por mais que em geral o foco dessa perspectiva seja negativo, existem dois aspectos importantes. O primeiro é a constante preocupação do indivíduo com qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa. Por mais que esse “exagero” de reação perante as coisas “simples” possa destruir o dia, o ano, até a vida, se não for tratada com atenção, faz também com que cada aspecto da vida seja visto com mais delicadeza e atenção, pessoas ansiosas são pessoas atenciosas. O segundo aspecto que eu queria ressaltar aqui é o potencial de empatia que alguém ansioso adquire. Com o tempo aquele que sofre desse medo crônico percebe que as suas aflições não são compartilhadas por outras pessoas, o sentimento irremediável que o toma e parece como um furacão, para os outros é apenas uma “frescura”, e esse tipo de situação apenas piora a vida de alguém que como se não tivesse problemas suficientes, “inventa”. Portanto o ansioso sabe o quão ruim é ter sua dor não reconhecida e mais do que isso, ele não só acredita, mas sabe o quão incompreensível pode ser a dor de outra pessoa; pessoas ansiosas são sensíveis e se pararem pra pensar um pouco em si mesmo (o que parece óbvio, mas definitivamente não é), começam a enxergar a dor de outras pessoas de uma maneira acolhedora e compreensível. Acho que é importante salientar que este parágrafo é uma tentativa de ver o lado bom de algo bem ruim, se eu pudesse, eu me livraria da ansiedade instantaneamente.

Quanto mais me acostumo com a ansiedade, mais eu consigo prever as minhas crises, recentemente eu estava andando na rua e pensei “eu vou explodir dentro em breve”, não levou mais do que quatro horas para que a bomba explodisse. A crise de ansiedade veio com toda a força que eu já sou “acostumado”; não acredito que alguém se acostume de verdade com algo assim, mas eu sabia o que estava por vir, sabia que era ruim, desgastante e que eu me sentiria péssimo por horas. Foi a primeira vez que encarei isso com tamanha “indiferença”; nao que seja possível ser indiferente a um canguru te dando socos na sua cara, mas é possível encarar a situação com um olhar um pouco menos surpreso. Ansiedade virou rotina.  Eu tenho uma crise forte, com isso eu tenho alguns maus dias, e daí então uns bons dias e aos poucos eu penso que nunca mais vou sentir ansiedade na vida, mas aos poucos as coisas vão acumulando, e acumulando e ao contrário de antes em que eu negava tudo que poderia ter me levado a ansiedade, hoje eu sei bem o que me causa, eu sei bem as nuâncias da minha doença e se tem algo que eu possa me orgulhar em relação a isso tudo é poder me conhecer um pouco melhor.


Aqui vai uma maneira bem lúdica de entender um pouco mais sobre o assunto: http://themetapicture.com/heres-an-easy-way-to-understand-anxiety/

domingo, 4 de janeiro de 2015

[FRC] Recycle Rush - Primeiras impressões.

Um post bastante incomum, mas eu precisava de um link bom para que eu pudesse mostrar a diferentes pessoas este texto. O Kickoff foi dia 3 e as equipes já devem estar a todo o vapor para a temporada 2015 da First Robotics Competition. Aqui vai as minhas primeiras impressões quanto ao jogo.



Introdução geral ao desafio
Com a dica disponibilizada pela FIRST as equipes deste ano já esperavam alguma mudança na estrutura geral do jogo deste ano em relação ás edições passadas. Eis que a mudança veio: os robôs de diferentes alianças não irão circular pela mesma área, portanto o uso de bumpers não é mais obrigatório. Semelhante a desafio da temporada 2009-2010 da Vex Robotics Competition, os robôs de cada aliança tem um espaço delimitado já na arena por onde irão circular. Outro elemento que se mostrou frequente na dica e nos momentos antes do Kickoff foi a preocupação com o lixo (que também será tema da próxima temporada da FLL). Eis que temos o nosso desafio. Dean Keaman havia dito que este poderia ser o desafio mais difícil já feito, o que de certa forma era de se esperar, afinal os times estão ficando cada vez mais eficientes em revolver de maneira exemplar os desafios propostos e para que não se perca a competitividade existente no evento é preciso sempre aprimorar os desafios, mas ao mesmo tempo torná-los possíveis de serem resolvidos mesmo pelas equipes iniciantes (mesmo que não em sua total plenitude). O jogo deste ano requer que os robôs empilhem caixas(caixas semelhantes ás caixas em que os kits de cada temporada costumam ser entregues) e acima das caixas coloquem latas de lixo(quanto mais alto melhor) e dentro (ou acima) delas colocar “espaghetti” de piscina.

O maior desafio do jogo
A primeira vista pode parecer que o jogo não é tão complexo, mas um olhar mais atento pode trazer a tona algumas questões que podem fazer toda a diferença entre um robô bom e um robô sólido e consistente. Os formatos de cada elemento do jogo são diferentes entre si, a caixa seria equivalente a um paralelepípedo, a lata de lixo a um cilindro e o espaghetti também a um cilindro, porém mais maleável e cumprido. Existem estratégias estruturais que podem parecer eficientes para pelo menos dois destes elementos, como uma empilhadeira, porém no calor da competição estes elementos podem estar em posições muito variadas, caídos no chão, de lado, empilhados de forma incorreta, entre outras variações que só conheceremos durante as regionais e que até o último instante da final do FIRST Championship ainda podem nos surpreender. Pensando nisso, o desafio começa a ficar mais complexo, pois desenvolver um mecanismo que consiga pegar o mesmo objeto em diveras posições requer bastante estudo. Até o ponto em que percebe-se facilmente que existem algumas diferentes estruturas que conseguem pegar cada elemento com bastante versatilidade de posições, todavia ao pensar nisso percebe-se que a primeira ideia que vem na cabeça é logo impossível, já que acoplar três estruturas, ou até mesmo duas, sendo cada um dedicada a um elemento do jogo seria uma tarefa ardilosa e possivelmente pouco eficiente. O maior desafio deste jogo logo de cara, é desenvolver alguma estrutura que consiga de maneira plena pegar os diferentes objetos em diferentes posições e altura, além é claro da precisão necessária para colocar o espaghetti dentro da lata de lixo. Um dos problemas deste desafio é que ele não deixa bem claro o quão complexo é resolver cada um dos objetivos. Muitas equipes tentarão pensar em como colocar o espathetti dentro da lata de lixo e para isso parece interessante a ideia de usar uma câmera que consiga ver o buraco no centro da lata e posicionar ali o outro objeto, todavia, quantos times estão preparados e seguros para usar uma câmera para uma tarefa como essa ? Eu acredito que não muitos e usar uma câmera para esta tarefa pode parecer seguro, mas a análise digital de uma imagem nem sempre é uma tarefa simples. Até hoje a FIRST se usou muito do recurso de cores e luzes para durante a partida um robô fosse capaz de analisar variáveis e melhorar a eficiência que os seus pilotos poderiam ter, mas no caso deste elemento que repito, pode estar em diversas posições, usar uma câmera pode ser algo ainda mais complexo do que normalmente já é. Uma equipe astuta irá conseguir achar uma maneira mais criativa, prática e confiável de fazer o mesmo trabalho, principalmente se aproveitando da simetria dos elementos o jogo, isso é um ponto chave.

Pontos Chave do Jogo.
Esse jogo espera mais do que nunca que os robôs consigam ser complementares. Enquanto que principalmente nos EUA o número de equipes é muito grande e ter contato e proximidade com outros times é algo bem comum, no Brasil isso já não é tão comum, uma vez que em nosso vasto país ainda não temos tantas equipes. É de se esperar que algumas equipes trabalhem em designs em conjunto para que o trabalho na arena fique bem dividido e mais eficiente, trabalho em equipe é um ponto chave. Mas para equipes que não estão desenvolvendo algo em conjunto, que seria  a maioria, pensar no outro vai ser fundamental. Uma forma de ver isso é pensar em um robô que pode ter diferentes tarefas em diferentes partidas. Haverão robôs que serão capazes de colocar caixas apenas até uma certa altura, alguns outros que terão destaque por serem capazes de posicionar elementos mais altos ou outros ainda que chamarão a atenção por colocarem sem problemas os espaghetis nas latas. Um robô campeão é um robô que consegue ser versátil e fazer o que for melhor para o time.

Possível surpresa
Alguns jogos de outras temporadas do FRC me chamaram a atenção por terem robôs com estratégias que não pareciam ter sido imaginadas pelos criadores do jogo, como em Breakaway onde alguns robôs ficavam parados durante a partida toda, mas pontuavam muito bem. Neste jogo eu não acredito que algo drástico assim vá acontecer, porém a FIRST já viu que as equipes são muito boas em lançar coisas (vide principalmente o último desafio e os desafios de 2006, 2012, 2013, entre outros), por mais que a regra explicite que um robô não pode cruzar o meio da arena, nada impede que o mesmo lance algum elemento para o outro lado da arena afim de prejudicar a pontuação do robô adversário, embora a ideia de desenvolver um mecanismo desse apenas para uma estratégia incomum e pelo que eu imagino, facilmente de ser impedida, nunca se sabe o que os times pelo mundo irão inventar e é aí que está a magia do FRC que eu tanto amo.