Think!

This may make you think. It only depends on how big is your world.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

[E-book][Conto] Viva la Vida/Death And All His Friends.

Chegamos enfim ao final de uma história minha. Ainda aprenderei a fazer finais melhores. Muitos me perguntaram se esta história estaria relacionada de alguma forma com outra história minha, agora eu direi a verdade: SIM. Sem mais detalhes por enquanto. Obrigado a todos que me acompanharam até aqui.

Mr. Silver


Viva la vida

Uma vida ordinária, não é necessariamente uma vida ruim. É uma vida relativamente comum e era assim que Lucas sempre havia pensado que era a sua vida; vazia, sem um grande amor, sem grandes emoções e pessoas concordariam com ele ao dizer que havia tido uma triste vida. Entretanto pensando mais profundamente é possíve concluir que não era bem assim, afinal poucas pessoas tinham a oportunidade de fazer um ensino superior de tamanha qualidade, conhecer pessoas tão diversificadas e além de tudo isso ter a capacidade de saber o dia de sua morte e se preparar para ela. A um dia do seu fim ele poderá pensar que muitas coisas que foram feitas podem ter sido em vão, porém essa não é a hora certa de pensar nisso.

Se pensarmos profundamente, o simples fato de você estar lendo isso quer dizer que você é uma pessoa privilegiada, você tem acesso a um computador com internet e ainda por cima tem capacidade de ler e quem sabe escrever. É difícil pensar desta forma quando se tem arios outros problemas na vida: tem muita gente rica e cheia de oportunidades, mas não tem um casamento feliz, ou então que tem um filho que ele ama, mas lhe dá vários problemas dos mais diversos tipos. É extremamente complicado entender as coisas numa proporção maior e se comparar com o mundo num âmbito imensamente maior e obviamente mais abrangente; talvez seja uma coisa humana.

Lucas está chegando ao fim de sua jornada chamada vida. Mas um instante pode alterar toda uma vida, talvez ele não precisasse fazer mais nada em sua vida para completá-la e o que viria em três anos viria mesmo que ele não soubesse. Um único instante pode fazer com que toda a sua vida valesse mais ainda a pena. Mesmo ele ainda estando triste por pensar que a ausência de um namoro em sua vida, mas será que isso era preciso? Ou será que o que ele queria era apenas algo que poderia tanto vir com um namoro quanto com outra coisa? A grande questão é se ele vai ou não descobrir isso a tempo.

A tristeza é algo que não abordei com precisão específica. Mas pense em uma dor muito forte e fria que passa desde o pescoço até o fim do corpo e só não é sentida como uma dor na cabeça, pois o psicológico já chegou em um nível de desnorteiamento que nada mais é sentido ali. Tudo que acredita pode ir para baixo levantando assim apenas hipóteses tristes e depressivas, como solidão, incerteza, insegurança. Morte. Isso acontece com maiores ou menores frequências na vida de todos, alguns infelizmente sofrem isso por longos tempos ou com uma frequência absurdamente alta. Mas eu queria que qualquer pessoa que se sente assim pudesse olhar pra isso e ver verdade.

“Valeu a pena? Tudo vale a pena enquanto a alma não é pequena”

(Fernando Pessoa)

Lucas acordou um dia antes do dia de sua morte e algo o preocupou: ele não se lembrava a que horas ele tinha marcado com seu médico a três anos atrás, então ele consideraria que essa seria sua última noite de sono. Uma vez que na verdade ele não tinha dormido nada, ele acabara de usar mal uma de suas últimas oportunidades de dormir. O que ele achara tão trivial durante toda a sua vida: dormir, já que na época da faculdade dormir era um luxo, ele passava noites e mais noites estudando para provas e análises de casos complexas. Agora tudo isso, todas as lembranças iriam embora, ele simplesmente não tinha motivo lógico algum para terminar de fazer o que tinha que fazer, Lucas poderia simplesmente dormir e aguardar por seu momento, todavia algo dizia a ele que aquele dia não seria simplesmente um dia.

Alice aguardava ansiosamente por encontrar Lucas. Na verdade ela não simplesmente esperava naquele dia específico por encontrar com ele, ela esperava a anos por um momento em que pudesse conversar com Lucas e dizer tudo que precisava. Então lá estava ela com seu melhor vestido casual, maquiagem e perfume importado para chamar a atenção e dado o tempo combinado Lucas apareceu em frente ao seu escritório onde tinha marcado uma espécie de reunião pré tribunal. Sua cara não era muito melhor do que sempre fora, mas era como se Alice tivesse percebido algo em sua feição:

- Você está bem Lucas? Acho que está com uma aparência muito cansada. O que acha de fazermos essa reunião passeando um pouco? – Esse era o tipo de coisa que seu chefe não recomendava fazer em qualquer dia normal principalmente com clientes que ele tinha tão pouco contato.

- Claro. Onde quer ir? – Aquele não era um dia normal qualquer.

- Vamos ao melhor café da cidade!

Lucas não havia tido muitas oportunidades de sair com alguém tão atraente e legal como ela, todavia uma ideia não saia da cabeça dele “ela acha que viajar no tempo é possível, essa garota é maluca”. Mas ele preferia ignorar isso e aproveitar um pouco aquele dia.

Os dois tomaram um café de altíssima qualidade, comeram bem e falaram sobre trivialidades. Até que o assunto que Lucas estava tão curioso, curioso a ponto de pensar que não podia morrer sem saber a resposta para aquilo, literalmente.

- Afinal Alice, você me deu várias desculpas para explicar isso, mas nesta altura do caso é a hora de ser sincera... – Antes mesmo que ele terminasse a frase ela já estava respondendo de prontidão.

- Você deve querer saber sobre essa coisa de eu viajar no tempo. Bem. Espero que tenha uma mente aberta para ouvir isso. – Lucas na hora pensou que teria que se preparar para uma história sobre bruxas, fadas e alienígenas que tinham por profissão destruir planetas e escrever poesia.

- Vou dar o meu melhor.

- Tem um garoto em um país meio distante daqui que consegue fazer coisas que você nem imagina. Por estes dias ele voltou de um grande hiato de muitos anos. O problema é que ele ficou um tanto quanto nervoso com algumas atitudes e bem... Em breve você irá ver algo no jornal.

- E porque eu não vi até agora?

- Você ainda acredita MESMO na mídia?

- Ok... Continue.

- Este garoto tem uma capacidade de gerar energia que a física não conseguia explicar até pouco tempo atrás e mesmo hoje são poucos os que tentam e menos ainda os que conseguem explicar o fenômeno.

- O que tudo isso tem a ver com viajar no tempo? – A paciência de Lucas estava se esgotando.

- Essa energia pode ser tão grande que viajar no tempo seria uma possibilidade aceitável.

- Olha , eu poderia passar meu dia inteiro tentando julgar as suas palavras, mas ainda não faz sentido te acusarem do que te acusam.

- A grande questão é que não era pra esse tipo de informação ter chego tão cedo aqui nesses países. Mas quer saber o que eu realmente acho? Acho que a gente deveria aproveitar melhor esse dia maravilhoso e curtir um bar hopping hoje! – Lucas estava mesmo que aquilo tudo não tivesse fim e que aquele dia se tornasse um looping infinito de tempo. Tudo isso parecia impossível, mas ele poderia pelo menos aceitar esse inusitado convite.

- Por que não?

Com essa frase Lucas pode ter umas das noites mais interessantes de sua vida inteira. Ele dançou, cantou, bebeu, correu e acima de tudo se divertiu tanto que ele nem sabia mais o nome do bar em que ele se encontrava. Tudo que ele se lembrava às três de manha era de que ele havia refletido muito e agora ele queria muito beijar Alice e que ele estava perto de algum show de música retrô ou alguma coisa assim. Foi quando ele ouviu: “Away over on the rooftops. Let’s get married

- MARRIED? HAHA Eu nem namorada tive! – Lucas gritava alto e acabou caindo no chão, solitário. Depois ouviu a seguinte frase: “So come over just be patient. And don’t worry”.

- Meio tarde para falar isso não!? Depois dessa vida desgraçada! Não tem mesmo mais nada com o que se preocupar! É o fim! – Lucas estava revoltado, era fim da vida dele e ele ainda se sentia vazio e bêbado.

- Eu entendo que esteja revoltado Lucas, mas preciso te dizer isso. Eu sou casada, mas desdeo dia que nos conhecemos percebi que você era alguem especial, que mudaria o mundo. Eu estava certa, você estava meio mal, mas conseguiu mudar o mundo em apenas um instante. Se algum momento você duvidou que alguém como eu pudesse gostar de você, fique sabendo que o mundo todo irá te admirar, uma pena não viver para ver isso. Só uma coisa, talvez você não se lembre, mas eu era aquela garota que você gostou durante todo o colegial e faculdade, é que eu mudei muito meu visual e foi até bom para não me reconhecer, ajudou no processo.

Com estas palavras Lucas se foi com o sorriso mais sincero de sua vida toda.

No dia seguinte o seu corpo foi encontrado no meio da rua do centro de São Paulo e o médico legista disse apenas isto: “4 horas antes do esperado. Ataque cardíaco fulminante, esqueci de prever isso.”

Death And All His Friends.

Eis que a história tem seu fim. Um fim um tanto quanto confuso, mas que será compreendido com o tempo. O fato é que Lucas teve um fim digno de alguém que coopera com um herói. Ele soube que era admirado pela garota que ele sempre admirara. O amor pode ser apenas um detalhe para uma vida cheia de trunfos. A parte mais complexa é reconhecer suas outras qualidade em detrimento dos seus defeitos apenas. Viva la vida. Aproveite tudo que possa aproveitar, prospere e seja alguém grande. Grande não só para seus pais, ou para sua namorada ou namorado. Seja grande para si mesmo e para seu mundo.

Vai haver dúvida sobre o final ter sido feliz ou triste, mas eu digo: há felicidade em uma vida de tristeza com um desfecho levemente feliz? E há tristeza em uma vida feliz com um final desastroso?

2 comentários:

Cara, gostei pra caramba da história! A ideia central do texto é fantástica! Pode gerar incríveis reflexões existenciais e tudo mais.

Claro que depende de cada um, mas bate uma reflexão pesada sobre felicidade, aproveitar a vida e morte; assuntos nem sempre discutidos a fundo. Uma vida cheia exclusivamente de alegrias não teria sentido - sem o sofrimento, nunca aprendemos o quanto devemos valorizar a felicidade. Como diria meu avô: "A vida perderia a graça" - para vários assuntos.

A vida tem esse aspecto: a graça de viver. Não é simplesmente estudar, trabalhar, conseguir dinheiro e uma boa família. É algo muito mais profundo que cada um tem que descobrir por si só. Se tudo fosse como realmente gostaríamos, com certeza não entenderíamos, nunca, o real sentido de viver.

Particularmente, acredito que só estar vivo já é um grande presente; não passar dificuldades e ter, como você citou, privilégio em muitas coisas é um motivo maior ainda para agradecer a cada por cada dia que passa.

Sentido da vida? 42.
 
Haha 42 forever. Cara valeu MESMO pelo comentário. Mostra que ainda vale a pena escrever algo.

Pois é, se começamos a refletir muito sobre a vida ou ficamos muito felizes ou entao muito tristes.

A vida tem que ter sofrimento... Mas tem horas que parece até demais, não?
 

Postar um comentário